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Fique Comigo, um romance imprevisível.


Sabe aquele livro que te prende do início ao fim? Este é o caso de Fique Comigo, da escritora nigeriana Ayobami Adebayo, que conta a história do casal Yejide e Akin.

Ele se conhecem ainda na faculdade e começam a sair, mas desde o início Yejide coloca como condição para eles se relacionarem que não haja outras esposas. A poligamia é algo comum na cultura nigeriana da época.💜

💜Yejide cresceu em uma família cujo pai tinha várias esposas, o que causava grandes conflitos em sua família, algo que ela não queria para a sua vida.

Ocorre que após quatro anos de casados, o casal não consegue ter filhos, embora os dois não tivessem algum problema para engravidar.💜

💜Traindo a esposa, Akin cede a pressão de sua família e arruma uma segunda esposa, deixando Yejide arrasada e desesperada para engravidar.

Yejide é uma mulher independente, que tem seu próprio negócio, mas se sente inferior por não dar um filho a seu marido e passa a fazer vários rituais religiosos na tentativa de conseguir.💜

💜E essa dualidade de sentimentos é algo que me chama muito atenção na obra. Embora seja uma mulher independente, capaz de sobreviver sozinha, que ajuda com as despesas da casa, Yejide tem um sentimento de incompletude por não conseguir ter filhos. A incapacidade de gerar é um fardo para ela, agravado ainda mais pela pressão social e da família do marido.

💜O livro aborda o papel da mulher na sociedade que, em muitos lugares e, até mesmo no Brasil, ainda o associa com a geração de filhos. A mulher que não consegue ou não deseja ser mãe ainda é vista como alguém infeliz, incompleta, como uma pessoa sem valor ou qualquer função. A independência feminina é algo totalmente irrelevante e desvalorizada mesmo em sociedades mais modernas.

Além disso, a obra aborda como sempre pende contra a mulher a desconfiança pela impossibilidade de gerar filhos de um casal. Mesmo não havendo problemas com Yejide e Akin, ela é sempre culpada pelas pessoas pela inexistência de filhos.💜

💜Paralelo a isso, temos como pano de fundo o período político tormentoso vivido pelo Nigéria entre a década de 80 e 90, com muitos conflitos e sucessões de tomada de poder.

Tenho que ressaltar também a forma de narrar da autora, que torna o livro muito mais dinâmico. Os capítulos intercalam entre o passado e o presente, além de serem narrados separadamente por Yejide e Akin, o que nos permite ter visões diferentes sobre a mesma história, e não uma narrativa parcial. Assim podemos tirar as nossas próprias conclusões sobre tudo o que está sendo contado.💜

💜É um livro que consegue abordar relações afetivas, questionar o papel das mulheres na sociedade e seu valor, e, ainda, tendo como pano de fundo o ambiente político da Nigéria dos anos 80 e 90, período de grande instabilidade e conflitos que aterrorizavam a população.

Para além de tudo isso, contamos com uma escrita que prende a nossa atenção.💜

💜A autora tem o dom de nos surpreender ao final de cada capítulo e principalmente no desfecho da obra.

Foi um dos melhores livros de 2020 e acho que vale muito a sua leitura.💜

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